segunda-feira, 22 de março de 2021

Memorial do Antropóide Fábio Dal Molin Segundo Ele Próprio e suas Circunstâncias



                                             




 Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Instituto de Psicologia

Departamento de Psicologia Social e Institucional

Porto Alegre, Outubro de 1999


Memorial de um Antropóide

"Trata-se  de uma exposição de até oito páginas, contendo análise das experiências profissionais e apresentando as razões  de escolha do Programa e da linha de pesquisa, bem como a descrição dos interesses teóricos"


Ontem fui colher uma orquídea para a lapela, uma flor maravilhosa, sarapintada de manchas, estonteante como os sete pecados mortais. Perguntei o nome da flor a um dos jardineiros.  Ele informou que era um belo espécime de Robinsoniana, ou coisa assim. É uma triste verdade, mas perdemos a capacidade de dar belos nomes às coisas. O nome é tudo. Eu nunca critico os fatos. Limito-me a criticar as palavras. Eis porque detesto o realismo vulgar na literatura. O indivíduo que chama "pá" deveria ser condendado a manejá-la. Só serve para isso...thanks a lot, your marvelous cinic Sir Henry Wotton (personagem de O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde) agora posso começar meu texto.

15 de julho de 1975. Já procurei, não é dia de nada. Ah, lembrei! De São Vito. É claro, pois para cada dia do ano há, pelo menos, um Santo, Aliás, sempre há algum dia para alguma coisa ou para alguém. Os aniversários e os feriados foram feitos para isso! Todos nós temos o nosso dia para alguma coisa.! Alguns dias são comuns a todos, como o Natal e o Ano Novo, ou a final de uma Copa do Mundo, ou um Holocausto Nuclear, mas todos têm o seu dia, que sempre será o mesmo dia que alguém (afinal, pessoas nascem todos os dias). Uma história  que me foi contada por um disco de vinil vermelho  que, do outro lado, tinha gravado O Gato de Botas: Alice no País das Maravilhas. Alice encontra o Chapeleiro Louco e a Lebre Maluca, comemorando um desaniversário, sim, é a mesma lógica dos solstícios: após o dia mais longo do ano, os dias começam e encurtar até os equinócios, e assim vão diminuindo, até o solstício de do inverno, o dia mais curto do ano e os dias começam a aumentar... As estações  são mestiças, o ápice do inverno  já é o início do verão.  Isso, é claro, para um clima "ideal", pois o ângulo do sol é diferente nas diversas partes do planeta e os micro-relevos são capazes de produzir uma infinidade de estações, e os solstícios e equinócios misturam-se como as tintas de uma palheta. Na psicodélica alegoria de Lewis Carrol, uma vez por ano, éo dia do aniver´sario, e os outros 364 dias (ou 363) são os dias do desaniversário. Não há dia mais importante que outro. Pois é, neste dia, às 14 hroas e 45 minutos, em Porto Alegre, RS, mais precisamente no Hospital Conceição, nasceu uma criança que foi registrada e batizada como Fábio Dal Molin, filho 12 anos mais ovo de um total de cinco, o único nascido na capital, e que agora está escrevendo sobre isso.

 Será?  Prefiro iniciar não reconhecendo a autoria deste memorial, já que o considero um relato de encontros. E encontros são encontros, e não simplesmente a comunicação entre duas partes. As circunstâncias urgem  para chamar  a esse texto "memorial",  e já digo que memórias ( e não haverá citação obrigatória de nenhum autor aqui, pois esse texto é arrogantemente livre) são implicadas em "acontecimentos', e acontecimentos só existem se acontecerem para alguém. Sobre a verdade, eu a amo tanto que procuro preservá-la, reconhecendo sua inexistência.

Tenho verdadeiro pavor ao estatuto da autoria, ele é um sistema de exploração e mercado muito perverso. Quem não se lembra do Dr. Silvana,  o grande inimigo do Capitão Marvel, que certa vez tentou privatizar o alfabeto? E quem não sabe que hoje certas indústrias farmacêuticas colhem plantas curativas e conversam com xamãs na floresta amazônica, para depois registrar e adquirir exclusividade sobre o uso de ervas medicinais que podem erradicar várias doenças? Mesmo exposto a todo tipo de pirataria e plágio, reconheço que seria impossível provar minha culpa em escrever este memorial, pelo simples fato de ele ser produto de constantes revisões e alterações, que só pararam na hora de mandar imprimir. Sem falar que, para dizer  que "essas palavras são minhas", eu realmente deveria pagar "róialtis" ao dono do alfabeto, ou à Academia Brasileira de Letras. O autor deste texto já morreu, ou nem sequer, pois foi forjado de uma imaterial inquietude resultante do funcionamento incomum de um conjunto incomum de células  corticais,  e nada mais. Reconheço já o plágio de Memórias Póstumas de Brás Cubas, do inimitável Machado de Assis, ( por sinal o  legítimo dono da ABL), e ainda  trago a questão do desaniversário, pois tal romance ficou famoso sendo narrado por um morto, que, do seu caixão, começa, pela primeira vez, a pensar sobre sua vida.

Voltando a Oscar Wilde, o retrato pintado do apolíneo Dorian Gray não só envelhecia enquanto este permanecia jovem, mas também revelava as terríveis vicissitudes do seu caráter. Dorian trancou a pintura a sete chaves, e ao seu lado colocou um espelho. Após a primeira modificação, um misto de horror e curiosidade acometeu-lhe ao perceber que sua própria imagem  parecia defasada em relação ao quadro, e que este refletia genuinamente seu momento e sua alma. O grande tormento do escritor é que os frutos que colhe da árvore de seus próprios pensamentos apodreçam em breves instantes, e a palavra escrita e impressa,  em sua ilusão de registro e imobilidade, é, paradoxalmente, o que há de mais efêmero. Ano passado, quando prestei um fracassado exame para o mestrado (que rima macabra, como esta cacofonia) redigi  esse tal de memorial um pouco às pressas, e saiu um texto que até parecia bonzinho, mas quando o encontrei quase um ano depois, li outro Fábio contando uma outra história difícil de  acreditar. Tranquei-o a sete chaves em algum diretório. Eis um sério indício de que todo o texto, e a própria palavra contada/contida nele, é uma ficção, uma grande ilusão, perfeitamente moldável pelas circunstâncias, pelo andar da carruagem cósmica que é o girar do mundo e toda matéria e energia nele existente. Essa tal de "trajetória intelectual e profissional" no  texto anterior, ficou explicativa demais, uma ficção pouco palpável,  " ah, sempre questionei muito o que aprendi na universidade, etc, ou "meu interesse pela psicanálise (ou Jung ou Fenomenologia, ou pela polítuca, ou Psicologia Social, ou Teatro) foi por causa de tal autor ou tal professor, etc." Essa causalidade é um tanto enfadonha,  e, de fato, ela só nasceu no momento  de escrever o texto, antes não existia, e os fatos da vida flutuavam livres pelo éter." O signo é uma mentira", diz Umberto Eco. E a vida é contada pelos signos! E podemos explicar  os signos como as "janelas" do computador, ícones selecionados via mouse que levam a bancos de dados que levam a novas janelas e novos dados.

 Nossa contemporaneidade ainda muito greco-romana obriga-nos a eleger grandes heróis e grandes tragédias, profecias terrivelmente realizáveis e alguma lição a se tirar disso tudo, os bons e os maus

Duas historinhas zen-budistas:

-Mestre, estou sendo esmagado pelo meu ego. O mestre respondeu: Muito bem, então mostre-me seu ego

A outra é uma lição:

Quando estiver meditando, se o demônio aparecer, dê-lhe três chibatadas, se Buda aparecer, também dê-lhe três chibatadas. Tudo é ilusão. Pense no aqui e no agora.

O aqui e o agora. Não há momento mais importante, nem no passado nem no futuro. Lewis Carrol retorna à discussão: não há dia mais importante que os outros. Os dias são mestiços.

 A possibilidade das escolhas

Sobre as atividades que realizei no curso de psicologia, meu curriculum as explicita muito bem, e talvez eu acrescente duas disciplinas de Introdução ao pensamento junguiano. No entanto, estou mais preocupado aqui em m em captar as intensidades do que circula pelo meu "mundo vivido" e "trajetar" uma trajetória. fiz quatro vezes a  a disciplina de Estatística Básica I, por sinal, minha última atividade como graduando. Aprendi com um professor "muito maluco" e genial que a probabilidade não existe, é pura invenção. Ele sempre pregava uma peça nos alunos: no clássico exemplo de probabilidade de uma moeda jogada dar cara ou coroa, lembrava-nos de nunca descartar a possibilidade  de um albatroz  entrar voando pela sala  e roubar a moeda! As probabilidades  são especulações matemáticas baseadas em estados de coisas ( o número de faces da moeda) ou eventos preexistentes (os experimentos), criadas por nós, que somos antropóides metidos a matemáticos. Na verdade, as coisas simplesmente podem acontecer ou não. O que quero dizer é que relatar minhas experiências "passadas", considerando a linearidade do que é "passado" determina o "futuro" é um método falho de investigar o que é o presente, e o presente é simplesmente um "entre fatos". Eu simplesmente gostaria muito de alimentar estas páginas com notícias limpas e frescas, encontrar fatos trazidos à tona pela reflexão presente, forças que sinto vivas ainda hoje e que sempre estão voltando, angustiadas para dar sentido à realidade.

                                             O encontro com o mundo

Um de nossos hábitos cotidianos é afirmar "hoje em dia, a Televisão domina o mundo, aliena as pessoas", ou qualquer coisa assim. ora, "hoje em dia" dá uma idéia  de que a pré-existência, de que se viveu algum dia sem TV; para alguém de 24 anos isso é uma piada sem graça...

Em uma interface temporal avanço e retrocedo milhares de anos e constato que o mundo onde e nasci e vivi é um mundo  que pertence à televisão e ao dinheiro. O livro sagrado da minha geração é o programa Vídeo Show. Assim é  assim foi o mundo: a janela que a televisão mantinha constantemente aberta para acontecimentos de outras épocas e lugares, muitas vezes ao vivo. O Vídeo Show é um festival de memórias, onde observamos que o tempo passou rápido, e as imagens que nos faziam alucinar nos anos 70 e 80 hoje parecem esmaecidas e ultrapassadas, o som abafado, os atores de hoje envelhecidos. Estamos na era dos "cyborgs", que não são meramente dotados de próteses como o saudoso Steve Austin em "O homem de seis milhões de dólares", ou "Robocop", mas seres que utilizam máquinas como extensão de sua subjetividades. Também não há como negar que a linguagem também é uma máquina, um instrumento de organização do pensamento e comunicação. É imporssível determinar a "veracidade" de qualquer coisa ou qualquer fato, pois eles sempre chegam a nossa percepção da forma de outras percepções. Desde que aquele macaco do filme "2001-A Space Oddissey" teve a genial ideia de transformar o fêmur de outro animal em um potente instrumento de destruiçãi, as "máquinas", sejam elas palavras ou supercomputadores, ou o conceito de humanidade, fazem parte de todos nós.

                                A escolha da linha de pesquisa


Três foram as vezes que assisti "Matrix", um filme que muitas pessoas, das mais variadas ideologias. concordaram ser uma constrangedora expressão do mundo  em que vivemos. Sim, quando nascemos, recebemos o mundo de presente dele próprio, aprendemos a contar os segundos, as horas os meses, organizar acontecimentos e histórias contadas. Para algumas pessoas, como Fábio Dal Molin, por exemplo, tudo parecia muito natural no início. A Internet, para a minha geração, chegou a surpreender por alguns momentos, e está sendo incorporada e explorada, graças a sua constante transformação. A TV faz parte  de minhas memórias mais longínquas, como o fogão ou o chuveiro, e nunca houve, como há no computador, a possibilidade de responder, de dizer "não" ou sequer "sim". Hoje posso facilmente construir um sítio virtual, divulgá-lo  bem, e entrar em fóruns de discussão em qualquer parte do mundo. A televisão é um veículo  de comunicação no qual "um grande transmite a mesma informação para muitos a longas distâncias imediatamente". A primeira transmissão via satélite da história, no fim dos anos 60, foi a canção "All you need is love" dos Beatles:

 There's nothing you can do that can't be done

Nothing you can sing that can't be song

Sempre amei os Beatles. Agora, na internet, na forma de comunicação "de muitos para muitos' posso acessar milhares de sítios virtuais  sobre a banda, ouvir música, obter informações, fotos, letras, videoclips, conversar com outros fãs (ou, por que não , com Paul McCartney?) e elaborar meu proprio sítio virtual sobre o que eu mais gosto dos quatro rapazes de Liverpool. O que interessa, na verdade, é que a televisão capta uma realidade que ela própria escolhe e modifia, ampliando o que mais lhe interessa e extinguindo o resto, e esta realidade é apresentada como se fosse "a realidade" aos telespectadores. Na Internet também ocorre isso, mas a capacidade de escolha do internauta, bem como  a quantidade de informações disponíveis, é infinitamente superior, e a "realidade" apresentada pode muito bem ser modificada. Tudo é ilusão.  Este é um dos princípios do filme Matrixm e de novo o zen-budismo: se tudo é ilusão, tudo é transformável, nada  é absoluto, uma ética, o conhecimento sobre o conhecimento. O aqui e o agora. A meditaçãio  zen é um princípio interessante: tentar não pensar,  e mesmo  não pensar seria pensar, é preciso deixar os pensamentos fluirem, as sensações desaparecerem e a verdadeira luz aparecer e mostrar a realidade, até perceber que não há diferença entre o eu e o Universo. A arte do arqueiro zen é tornar-se ele mesmo flecha e alvo.

Agora sinto-me à vontade para falar da minha linha de pesquisa.

                         Vamos então ao objetivo deste memoríal

A mecânica dos fluídos nos ensinou muito bem o que é o vácuo. O vácuo é, em última instância, um possibilitador do movimento. Pensemos classicamente: o ar desloca-se por diferença de pressão, a saber, das áreas de maior pressão para as de menor pressão (este é o fenômeno característico dos ventos, por exemplo). O vácuo, por ser o vazio, é o ambiente de menor pressão, então ele é capaz de fzer com que o ar e os objetos que estejam imersos nele se desloquem até ele. Não lembro se foi Arquimedes ou Aristóteles quem disse "a natureza odeia o vácuo". Há outros exemplos analógicos na natureza ( como o salto quântico do elétron ou a diferença de potencial  geradora de eletricidade), mas pensemos que a atmosfera da Terra está sempre em movimento por sempre haver diferenças de pressão  entre as massas de ar, gerando "vácuos relativos". A circulação do sangue pelo corpo obedece a um mecanismo da mesma natureza. O que interessa aqui é "o vazio que provoca o movimento, o encontro e a mistura".

Nos meus cinco anos do curso de Psicologia da UFRGS, passei, como todos os alunos passam, pela enxurrada de informações sobre teorias e correntes de pensamento, e por uma coação quase que terrorista de que deveria optar por uma e estudá-la até o dia de minha morte, ou então todos torceriam o nariz e eu estaria fazendo uma "salada de frutas" teórica. Ora, eu adoro salada de frutas, e aprendi que, quanto mais variada for a  alimentação, melhor para o organismo, e cada fruta complementa os nutrientes da outra, bem como o sabor. Foi através da participação dos EREPs que pude "sair da Matrix" universitária e ter contato com o que se estuda em outras universidades e em outros estados ( e até me outros países) Pude, saindo da UFRGS e adentrando o EREP, que é um espaço de múltiplos encontros, olhar lá para o Rio Grande do Sul e para Porto Alegre, e refletir se o que eu aprendia era realmente a Psicologia, entendida como o estudo do ser humano, seja lá ele quem for, ou era uma maldita coletânea de pesquisadores famosos que estudavam ângulos diferentes do mesmo objeto e brigavam politicamente entre si. Um aprendizado decididamente anti-ético.

No momento de escolha do estágio em psicologia escolar, eu decididamente ansiava por novas experiências, negava a possibilidade de que meu futuro como psicólogo seria ficar repetindo o que outros autores escreviam ou faziam. Na época que era bolsista  de iniciação científica do professor William Barbosa Gomes, e havia aprendido a ser um pesquisador, e mais, um fenomenólogo ( a fenomenologia, pura e simplesmente, é o estudo dos fenômenos e os fenômenos são tudo aquilo que acontece no mundo e é percebido pelo ser). No entanto, também havia feito duas cadeiras de Jung, uma espécie de psiquiatra-psicólogo-antropólogo, e, no decorrer das disciplinas da clínica, tinha contato com a psicanálise de Freud e Lacan. A pergunta era: o que é um estágio e que tipo de estágio poderia eu fazer.

 Surge, então a proposta do então setor e hoje Departamento de Psicologia Social e Institucional de realizar um estágio que integraria as áreas de Escolar e de Trabalho em  em apenas um local e com um período de um ano e meio. Mais tempo, possibilidade de integrar conhecimento e menos  trabalho de ir em busca de locais de estágio: eram estas as vantagens iniciais. Pois bem, estava marcada  uma reunião para os interessados e eu e meu colega Carlos Ribeiro, também sem estágio, comparecemos. Ali conhecemos Regina, diretora da Escola Estadual José do Patrocínio, na Restinga, que chegava, esbaforida, dizendo que a escola estava aberta a novas experiências, e que lá não havia psicólogo e muito menos estagiários. Um campo inexplorado de trabalho!!!

 Após uma longa viagem de ônibus ( que hoje parece um pouco menos longa) eu e Carlos chegamos na Escola. Era recreio, em pleno  e mormacento mês de abril, e milhares de crianças pulavam, brincavam , riam jogavam e brigavam. Uma escola com 1200 alunos em uma comunidade desconhecida por nós, e seríamos os primeiros estagiários de psicologia no local.

Nestes primeiros dias de Restinga e de escola, eu olhava para as professoras, as crianças, os banheiros, os prédios de madeira apodrecida em volta de um imenso  prédio construído mais recentemente e que chamávamos de nave-mãe, para o sol que brilhava lá fora e a rua de chão batido, para o bar do tio Neri, uma espécie de brique de artigos roubados que ficava em frente à escola, e tentava pensar. Só estou conseguindo agora descrever o que imaginei três anos atrás: a fisiologia, a estatística, a psicologia experimental, a fenomenologia,  a psicanálise, a semiótica, a epistemologia, Jung, as teorias sobre grupos e instituições, tudo parecia querer sair e entrar desesperadamente da minha cabeça, e ora fugir, ora ir ao encontro daquele mundo novo que surgia a cada local visitado e a cada pessoa com quem eu conversava. Ali, muito pouco valiam os códigos da academia, e os estagiários eram pessoas que vinham resolver os problemas, ou pessoas que não serviam para nada. Era preciso estabelecer um vácuo mental para que a realidade viesse ao meu encontro. Uma espécie de "momento zero" extremamente angustiante, mas que desencadeou uma mudança que fez com que eu sentisse o mesmo em quaisquer experiências desde então.

No início éramos  eu e o Carlos, e tínhamos supervisão uma vez por semana, nas quintas-feiras, com duas professoras que já encontráramos antes no curso, nas disciplinas de Trabalho e Escolar: Regina Sordi, sempre silenciosa e muito observadora, e Tania Galli Fonseca, que fumava um cigarro atrás do outro. Acredito que elas também estavam em um "momento zero" como supervisoras, e compreenderam perfeitamente tudo o que sentíamos, e, creio eu de novo, puseram de lado sua postura de "mestras" para nos ajudar em cooperação naquele  novo campo de estudo.

Muitas pessoas agregaram-se a nós e à proposta, e posso dizer, com certo orgulho, que tive uma oportunidade ímpar de construir, em cooperação, minha própria prática em psicologia, e isso teve continuidade no estágio da clínica. Pude, a partir, de todas as leituras que havia feito de diversas correntes e áreas do saber, desenvolver uma psicologia mais dinâmica, que tirasse um pouco o pé do freio e estivesse aberta sempre ao espírito criativo e à curiosidade. Esta curiosidade guia minha vida hoje, e ajudou a romper as barreiras do preconceito com a tecnologia e começar a explorar a internet, na verdade uma tecnologia não muito diferente da empregada no estágio, pois ambas  remetem ao conceito de rede, que é o tema do meu pré-projeto de dissertação. Tudo muda e tudo mudou, o mundo, as pessoas a própria forma de observar a ciência de forma mais complexa e interdisciplinar. Gostaria agora de citar algumas pessoas que fazem parte da minha trajetória, e que sua ausência tornaria esse memorial incompleto:

Akiles Cronópio, Carlos Ribeiro ( Sr Spock em constante luta com seu lado humano) Fábio Born Vieira ( o império dos Fábios se aproxima), Mateus Mapa ( do qual sou o Igor do "Frankestein" Relógios de Frederico), Juliana Dornelles (minha querida Smurfette), Heloisa Helena Marcon (o stress necessário) Michele Coelho (pena que mora longe) Fabiana Tomazzoni ( o stress necessário, parte 2) Deise Juliana Francisco (pena que mora longe, parte 2), Peter Pal_Pelbart ( apesar de ser meio canastrão), Suely Rolnick (ô mulherão), Manoel Mayer Jr ( que me ensinou muito sobre o movimento estudantil)

Gustaria de agradecer aos artistas que participaram deste memorial : Oscar Wilde, Machado de Assis, aos criadores de Matrix, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, além de Charles Bukowski, pois, sem ele, eu jamais escreveria nada. Também agradeço a Arquimedes ( ou Aristóteles) e ao Iluminado Sidarta Gautama.

 É isso aí